Você já deve ter visto aqueles valentões de filmes americanos. Geralmente, são grandes e impõem respeito, e até mesmo medo. Frequentemente parecem inabaláveis e destemidos diante dos mais fracos, mas quando as tramas exploram suas histórias mais a fundo, geralmente revelam que por trás dessa pose de grandiosidade existem vulnerabilidades, e toda aquela postura imponente não passa de um castelo de vidro, prestes a desabar sob suas fragilidades.
E o que isso tem a ver com logística? Isso serve como uma analogia para você entender com maior clareza onde quero chegar. A nossa logística global é imponente, impõe respeito, é vasta e complexa, evoluiu e expandiu-se enormemente ao longo dos anos, tornando-se quase um organismo vivo, com suas grandes rotas que mais parecem nosso sistema nervoso, cheio de terminações, conexões e impulsos. No entanto, quando examinamos de perto pequenos pontos que a compõem, percebemos que nossa logística global é extremamente frágil, a ponto de pequenas mudanças causarem grandes problemas em um efeito cascata, quase impossíveis de serem resolvidos rapidamente. E assim como aquele valentão, ela demonstra muita fragilidade, de tempos em tempos.
Atualmente, estamos vivendo exatamente isso. Alguns especialistas até sugerem que podemos enfrentar um cenário semelhante ao vivido durante a pandemia. Contudo, diferente daquela época, em que o problema era de fato global, hoje, questões pontuais estão provocando grandes impactos na logística internacional, especialmente no transporte marítimo, evidenciando a real fragilidade de nosso mercado
A seguir vamos destacar quais são estas questões pontuais, porque elas estão gerando problemas e como nós vamos te auxiliar neste periodo de turbulencia.
A seca no Canal do Panamá, intensificada desde o final de 2022 e início de 2023 devido às condições climáticas adversas e ao fenômeno El Niño, está causando sérios problemas logísticos globais. Com a redução significativa dos níveis de água, o calado permitido para os navios foi diminuído, forçando-os a transportar menos carga para evitar encalhamentos. Além disso, a capacidade de tráfego do canal foi reduzida, levando a atrasos significativos na travessia dos navios. Esses atrasos e limitações resultam em uma menor rotatividade de contêineres e espaço disponível nos navios, criando uma escassez global de contêineres. Essas dificuldades afetam diretamente as cadeias de suprimentos mundiais, aumentando os custos de frete e agravando os desafios logísticos.
Canal do Panamá — Foto: Divulgação/ACP
A BYD, líder global no mercado de veículos elétricos e híbridos, impulsionou significativamente a demanda por contêineres devido ao robusto aumento nas suas vendas, que cresceram 49% em abril de 2024 em comparação com o ano anterior. Este crescimento é refletido na comercialização de 312.048 unidades, das quais mais de metade foram híbridos plug-in, evidenciando a expansão da empresa não apenas na China, mas globalmente, com mais de 41 mil veículos vendidos internacionalmente. Este cenário destacou um recorde na taxa de crescimento das exportações, atingindo impressionantes 177% ano-a-ano. A necessidade de contêineres escalou proporcionalmente à produção e às exportações frequentes da BYD, que busca atender a crescente demanda mundial por soluções de transporte sustentáveis. À medida que o espaço nos navios se torna cada vez mais disputado pelos veículos elétricos, os demais proprietários de carga e NVOs enfrentam desafios cada vez maiores para acomodar suas mercadorias. Esse cenário intensifica a competição por capacidade logística, destacando a complexidade e a interconexão das dinâmicas do nosso comércio global.
BYD Dolphin — Foto: Divulgação
A instabilidade no Oriente Médio, especialmente em torno do Canal de Suez, tem repercussões profundas no transporte marítimo global. O canal é uma via vital que conecta o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, e distúrbios nesta região podem forçar os navios a optarem por rotas alternativas e mais longas, como contornar o Cabo da Boa Esperança. Esses desvios aumentam significativamente o tempo de trânsito, reduzindo a disponibilidade de navios para outras rotas e levando a um incremento nas tarifas de frete devido à redução da oferta de espaço.
Companhias marítimas muitas vezes precisam redistribuir seus navios para manter a continuidade das rotas europeias cruciais, o que pode resultar em menos disponibilidade para outras rotas internacionais. Esse rearranjo também pode causar uma escassez de contêineres em certas regiões, visto que eles podem ficar retidos em rotas mais longas ou em portos não habituais, dificultando o retorno eficiente de contêineres vazios para regiões de alta demanda.
Este cenário evidencia a vulnerabilidade das cadeias de abastecimento globais a ameaças à segurança marítima, destacando o papel crítico que o Canal de Suez desempenha no comércio global. Os ataques recentes dos Houthis exacerbaram esses desafios, forçando as empresas a adaptarem suas operações logísticas e estratégias de mitigação de riscos, enquanto os stakeholders globais, incluindo governos e organizações internacionais, buscam respostas para garantir a segurança e a fluidez do comércio marítimo.
A somatória destes pontos, seca no Canal do Panamá, Aumento das vendas de carros elétricos pela BYD e Turbulências no Oriente Médio está causando um grande desequilíbrio na logística internacional. Aquele "valentão" está se mostrando frágil, e todos nós somos afetados por suas vulnerabilidades. Isso nos mostra que não existem pontos isolados; tudo o que ocorre no mundo está interligado e afeta a todos. Ainda precisaremos de muitos anos de evolução no mercado global para que eventos assim não desestabilizem tanto as movimentações de carga. Talvez, em um futuro próximo, não tenhamos que depender tanto de poucos armadores e possamos contar com maior competitividade neste mercado, o que traria mais saúde e resoluções mais ágeis para problemas como estes. No momento, cabe a nós nos adaptarmos e buscarmos alternativas para superar mais esta turbulência. Veja a seguir alguns direcionamentos importantes para os próximos dias:
Como os armadores estão se comportando diante da alta demanda:
A retirada tardia de contêineres tem resultado no cancelamento direto das reservas pelas transportadoras. Portanto, fique atento e mantenha tudo organizado para evitar este problema.
As transportadoras estão anunciando tarifas com overbooking, com um foco em carregamentos rápidos para evitar o aumento de tarifas semanais (GRI).
Os armadores vão aplicar a taxa de cancelamento, e a CMA anunciou que irá aumentar essa taxa!
O que é recomendado diante deste cenário:
Primeiramente, é fundamental contar com um agente de cargas que tenha expertise neste tipo de situação, pois, neste momento, não basta ter bons contatos; o agente precisa ter jogo de cintura e criatividade para a resolução de problemas. Por isso, recomendamos fortemente que você embarque com a Ethima, pois temos um time treinado e capacitado para o enfrentamento de crises como esta, e nossa certificação ISO28000 proporciona a segurança que sua carga precisa.
Além disso, é crucial efetuar os carregamentos o mais rápido possível para evitar GRIs semanais. O espaço é essencial neste momento de mercado difícil. Neste cenário, cada vez mais os importadores estão reservando espaço sem tarifas atualizadas para tentar garantir que a carga embarque. Mais uma vez, conte conosco para buscar as melhores soluções.
Por fim, esperamos que, à medida que a situação continue a evoluir, a comunidade internacional trabalhe em conjunto para navegar nestas águas turbulentas e mitigar as consequências econômicas e ambientais.
Conte sempre conosco.